Eu acordei e percebi que sentia saudade de mim mesma. Não apenas a saudade vaga de olhar-me no espelho, mas de fazer coisas sozinhas, ter privacidade, as necessidades básicas só minhas, tomar um banho demorado, ouvir as músicas que gostava, comer e beber o que eu quisesse e na hora que eu quisesse, ler meus livros preferidos, ver meus filmes secretos. Era uma saudade mais profunda e abrangente, saudade de sentir-me inteira e livre. Tanta coisa havia mudado fora de mim, que não me achei, no que eu havia me transformado? Para abrandar a saudade, precisava agora de coragem. Coragem de reagir, desproteger-me, desabrigar-me, sair de onde me prenderam.
É muito estranho não ser quem você era, não tenho o que gosto, não faço o que quero, nem minhas roupas são como gosto, uso o que me cabe e o que sai com facilidade, não posso falar ao telefone, nem fazer ou receber ligações sem que alguém saiba com quem e o que converso, meu notebook ainda uso sozinha mas aqui sabem minhas senhas, emails, tenho whatsapp mas no meu tablet onde todos podem usar e ver minhas conversas, minha irmã diz não gostar de internet, mas usa o meu zap, ver todas as minhas mensagens e o facebook da filha.
Sempre ouço uma piadinha ou indireta sobre minhas navegações na web. Sei que falam de mim, me julgam, já ouvi que não ganho nada, que ninguém me segue, me patrocina como fazem com blogueiros,
Me sinto muito invadida, me sinto constrangida, meu corpo imóvel só ocupo lugar, tempo e a vida dos outros.
Sinto saudades grandes de sair por aí, sem rumo, ou pressa, caminhar sentir o sol, a chuva, o vento no rosto, tomar banho de mangueira, entrar no mar, pisar na areia, na lama, na poça, correr até cansar sem ter que voltar.
Fugir de tudo que me fere, oprime, envergonha, sufoca, depender de tudo e de todos é indigno, sou um estorvo aqui, me falta amor e dinheiro.
Só tenho privacidade nos meus pensamentos e sentimentos no resto todos sabem, veem, mexem e remexem, meus pacotes de fraudas doadas ficavam em baixo da escada decidiram guardá-las aqui no meu armário, para isso mudaram tudo, doaram as roupas que eram da minha mãe, quase todas as minhas, só ficaram blusas é o que uso agora com a frauda, facilita tirar e botar, blusas de moletom tenho duas que se revezam em alguns invernos, amo xadrez, há quatro anos comprei duas uma rosa outra azul, R$ 79,90 cada uma, parcelada em duas vezes no cartão da sogra da sobrinha, a rosa usei uma vez, a azul nunca usei, depois que minha irmã brigou com ela ficaram guardadas e ano passado com a paranoia dela e da ajudante de que as blusas estavam enfeitiçadas atearam fogo nas minhas blusas xadrez, outro dia dei R$ 100,00 reais para comprar uma blusa xadrez vermelha e preto, adoro, meu sonho de consumo, mas ficou pequena, seria difícil até experimentar, nem tentei, desisti e a dei pra sobrinha, em troca me daria outra, mas até hoje nada, Quis uma blusa de moletom nova, pedi a algumas pessoas mas nada, a primavera chegando amanhã, adeus inverno e moletom.
Me sinto muito só.
Às vezes, as pessoas tentam destruí-lo, precisamente porque reconhecem seu poder - não porque não o veem, mas porque o veem e não querem que ele exista.
Às vezes, as pessoas tentam destruí-lo, precisamente porque reconhecem seu poder - não porque não o veem, mas porque o veem e não querem que ele exista.
TENHO SAUDADES DE MIM. DA MINHA VIDA LIVRE......
